Atmosphere…

atmosfera

Era o clima, era a grama, a atmosfera… – A gente sempre procura adjetivos para justificar quando nos sentimos bem.
Sob as nuvens de branco incerto. recém-aparecidas, apontava para um céu de cinza profundo …
Tão fugazes quanto intensos, que, ao som dos sons mais difusos, celebravam momentos que não mais voltariam e que certamente seriam lembrados muitas vezes depois…
Uma das mais impressionantes qualidades da vida é a capacidade de gerar momentos, penso…
Chega um dia em que parte de nossa história definitivamente vira história.
O passado as vezes é perfeito na medida exata de sua imperfeição.
O instante presente é o mais perfeito exemplo de efêmero.
O presente se desfaz no exato instante em que acontece…
Pensar no presente é remetê-lo instantaneamente a sua condição de passado.
Trata-se de uma seqüência de atos que lançam-se ao pretérito no momento em que nos damos conta de sua existência.
Não há tempo verbal mais complexo que o presente… – É mera abstração…
Já o passado é sólido, inalterável, estabelecido.
Pensar nisso tudo levou-me ao agrupado de imagens que fotografei ao longo da minha vida…
Penso nelas procurando ver revelado algo escondido além da própria imagem no momento em que aconteceu.
Meus olhos são profundos conhecedores da arte de fotografar, ainda que minha atenção esteja sempre mais concentrada nos ouvidos. Sou muito melhor na retrospectiva dos sons.
Ao contrário das fotografias de papel, é possível ouvir as imagens que fotografamos com os olhos.
Traz em si algo que é inalterável, especialmente por não ser visto apenas pelos olhos.
Percepção. Tudo é percebido através da visão do orador.
Para uns, um dia cinza é apenas um dia cinza. Para outros, o vislumbre de infinitas possibilidades…
Acordo no meio do devaneio e percebo que passaram-se algumas horas desde então.
Recordo-me do pensamento desencadeador…
Não era o clima, nem a grama e menos a atmosfera…
Era apenas eu.

Aline Telles

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